LONDRES (Reuters) - Autoridades de saúde do Brasil e da Colômbia irão lançar campanhas de controle de mosquitos de grande alcance usando uma bactéria de ocorrência natural conhecida como Wolbachia para combater a disseminação dos vírus da dengue e da Zika em suas populações.
Testes em pequena escala da técnica, que envolve infectar mosquitos com Wolbachia para impedi-los de propagar os vírus, mostraram uma redução significativa em sua capacidade de transmitir Zika e dengue, levando doadores a apoiarem planos mais abrangentes.
"O uso da Wolbachia tem potencial para ser uma solução pioneira e sustentável para reduzir o impacto destes surtos em todo o mundo, e particularmente nas pessoas mais pobres do mundo", disse a secretária de desenvolvimento internacional do Reino Unido, Priti Patel, quando o projeto mais amplo foi anunciado em Londres.
As campanhas de controle, programadas para ter início no começo do ano que vem no Estado colombiano de Antioquia e no Rio de Janeiro, serão financiadas com 18 milhões de dólares dos governos britânico e norte-americano, da instituição de caridade global Welcome Trust e da Fundação Bill & Melinda Gates.
O Zika foi ligado à microcefalia, uma má-formação craniana que vem se espalhando pelas Américas do Sul e Central e pelo Caribe e se manifestando também nos Estados Unidos.
Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Zika uma emergência de saúde global, e a conexão entre Zika e microcefalia veio à luz neste ano no Brasil. O país já confirmou mais de 1.800 casos de bebês com microcefalia que considera terem ligação com infecções de Zika nas mães.
A bactéria Wolbachia surge naturalmente em muitas espécies de insetos de todo o planeta, e pesquisas mostraram que ela pode diminuir significativamente a capacidade dos mosquitos para transmitir vírus a humanos.
Mas ela não ocorre espontaneamente no Aedes aegypti, a espécie de mosquito em grande parte responsável pela transmissão de uma variedade de doenças incluindo Zika, dengue, chikungunya e febre amarela.
Ao longo da última década, pesquisadores internacionais que trabalham com a entidade sem fins lucrativos Programa Elimine a Dengue (EDP (SA:ENBR3)), liderada pela Austrália, encontraram uma maneira de transferir a Wolbachia a mosquitos Aedes aegypti e fazer com que estes a passem para sua prole.
Quando os mosquitos com Wolbachia são soltos em uma área, eles se acasalam com mosquitos locais e transmitem a bactéria para futuras gerações. Dentro de alguns meses, a maioria dos mosquitos carregam a Wolbachia e o efeito para a ser autossustentado.
(Por Kate Kelland)